Enquanto Houver Chance

A História da Esmeralda

Hoje eu decidi contar pra vocês sobre o primeiro resgate de gatinho que fiz na vida. Na verdade, vou basicamente falar sobre a minha vida. Porque a minha vida é ela. A Esmeralda.
Ela chegou nos braços de um vizinho sem vida. Sem mexer os olhos, sem mexer qualquer parte do corpo. Jogada no meio fio, sem esperança, sem se mexer.
Quando eu a vi pela primeira vez, eu tinha certeza que ela tinha se entregado.
Era um domingo, e eu tinha acabado de receber o décimo terceiro. Porém, eu tinha plantão, então era questão de tempo até levá-la num hospital com raio x, onde ela pudesse ser avaliada. Pelas lesões que ela apresentava, eu tinha certeza que ela havia sido atropelada.
Coloquei ela numa caixa de papelão com o vizinho, e fomos pro atendimento. Cheguei explicando que ela não era minha, e que eu não tinha muito dinheiro. Mas que eu gostaria que ela fosse atendida, examinada, e assim eles o fizeram.
Embora eu tivesse certeza do atropelamento, a maldade humana sempre surpreende. E então no raio x, veio a surpresa: essa pequena frajolinha, de olhos sem vida, havia na verdade levado um tiro. A bala havia atravessado o ombro e quebrado 3 costelas. Estava com os ossos estilhaçados, e sentia muita dor. Mal de movia. Mal respirava.
Eu acho que, na verdade, ela mal queria viver.
No hemograma, ela estava beirando uma transfusão, e deixou que todos os procedimentos dolorosos fossem feitos em silêncio. Foi medicada, colocado uma tala, e na hora de ir embora, se transformou num baita de um demônio, se enfiando em baixo de um carro na avenida e me arranhando inteirinha. Quando a recuperei, xinguei até a última geração que ela teria. E a coloquei de volta na caixa, levando-a de volta pra casa.
E ela voltou pra casa do vizinho, porque eu não podia acolhê-la. Aqui ainda não tinha espaço, lar temporário, minha vó não permitia, e eu só poderia ajudá-la até ali.
Mas no dia seguinte, minha família viajou, e eu peguei ela de volta. Levei pro meu banheiro, e dei à ela o seu primeiro sachê. Coloquei uma cama, uma almofada na tentativa de deixá-la confortável, e deixava comida e água a disposição. Comeu muito recovery, muita AD, tomou muito remédio forte, e dei continuidade ao acompanhamento.
Na época, a Esmeralda conquistou muitas pessoas. Me doaram caixa de transporte (eu nunca tinha tido um gato), ração, sachês, graminha, e fomos nos aproximando.
Ela precisava de uma cirurgia ortopédica porém, ela não poderia operar logo após o resgate, ela estava tão debilitada que não aguentaria. O tempo passou, ela se recuperou, mas a fratura calcificou errado. E logo depois veio a hipótese de amputar a sua pata. Era certo que isso era necessário, e mesmo contrariada, eu já havia aceitado.
Até que eu a vi brincando com a pata atrofiada, e uma prima me pediu que a levássemos em outra clinica. Ela foi avaliada, e o veterinário nos pediu uma chance. Ele cobraria o mesmo valor pela cirurgia, e ainda retiraria a bala e a castraria pra nós.
E começamos uma rifa, uma campanha, e ela foi operada, colocou pino, se recuperou, ficou linda, e estava prontinha pra ir pra adoção.
Mas quem disse?
Esmeralda ficou. E eu, sem entender nada de gato, fui aprendendo com o tempo. Eu era tão lesada, que a primeira vez que ela ronronou, eu liguei chorando pra veterinária achando que ela iria morrer engasgada. Ela nem me cobrou a consulta. E me chamou de besta, rs.
Pedi férias, telei a casa, e nosso relacionamento foi baseado em confiança. Ela era arisca demais, mas fomos progredindo. Subiu na cama, dormiu quentinha, de repente chegou perto do travesseiro, e 2 anos depois, eu ainda sou a única que chega perto e a pega no colo.
Uma vez fiz um textinho pra ela que as pessoas gostaram muito, e neste texto, eu finalizava com a frase “Eu salvei a sua vida uma vez. Você salva a minha todos os dias.”.
E é verdade. Porque a minha vida É ela.
Sempre será ela.
E a minha vida É dela.
Simplesmente porque ela merece.
Ju Santana